domingo, 1 de novembro de 2020

Meu Corpo

 

Sabe-se hoje, que um bebê já percebe sensações desde a barriga da mãe... e daí até uns 3 anos a memória corporal fica presa nas sensações, presa ao sentir.
Atualmente, depois de anos de muito trabalho, gosto muito mais e aceito muito mais o meu corpo físico, mas percebo também que a memória corporal ainda precisa ser trabalhada, embora já esteja bem diferente de anos atrás. Amadurecer a memória corporal é muito mais difícil, até porque muito dessa memória fica no inconsciente...
Já terminada minha formação em análise Bioenergética, muita coisa mudou, mas muita coisa ainda precisa ser melhorada. Hoje, isso não me trás culpa e nem sensação de fracasso, mas gratidão por tudo que já melhorei e esperança que continuarei buscando o meu melhor...
Tenho revisto muita coisa que escrevi e achei no meio de muitas, um trabalho que fiz ao final do primeiro ano da formação, em 2010.
Vou postar aqui o trabalho feito...

 

     Rio de Janeiro, 6 de julho de 2010.
     Meu corpo
    Ao ter que fazer o trabalho sobre corpo, me veio muita dúvida, muitas questões bem formais: como escrever, como fazer, como apresentar, etc.
    Ao saber que o trabalho poderia ser um desenho, uma poesia, ou o que viesse, simplesmente elaborei-o na mesma hora em minha mente: meu corpo era UM TRONCO SE ABRINDO!
     Foi simples fazer, foi simples apresentar, mas escrever tem me trazido mais questões. A primeira que me veio, antes de fazer o trabalho foi o fato de ter dúvida sobre o tema: MEU CORPO ou O CORPO? Meu corpo seria falar de mim.. o corpo seria falar de um corpo que estaria fora de mim. E é impressionante que era assim mesmo que eu me vejo: fora de mim
   Ainda sem confirmação do tema, fiz a tarefa.
    Hoje percebo que fiquei fora daquele corpo. Ele estava no papel! E me veio na mente o quanto precisei e ainda preciso do outro para assim então, perceber-me. Perceber o corpo, os sentimentos, as sensações.
  Precisei que a Bel pontuasse que meu corpo parecia uma TORA para ver o quanto tora eu verdadeiramente era. E foi neste momento, num dos primeiros trabalhos, que comecei a olhar  meu corpo e a dar forma a ele.
    No decorrer deste ano, pude vivenciar “a tora” e todas as suas características e particularidades.
Pude perceber também que  a tora foi rachando e o quanto ela não permite que eu respire, e o quanto ela me faz conter minha respiração.
   Ao fazer o desenho do meu corpo, fui tirando parte da tora e tive a sensação que o que aparecia e tentava sair dali de dentro era uma borboleta, frágil, ainda amarrotada mas com força suficiente para sair e tentar seu primeiro vôo e se ver bonita e encantadora com todo seu colorido.
   Neste momento, entrei em contato com toda a sensibilidade existente por trás da tora e o quanto  trêmulo fica meu corpo quando esta emoção vem a tona.
   Agora mesmo, falando da emoção que me envolve, do corpo trêmulo, a mente se torna confusa como se houvesse um vazio e eu não pudesse pensar.
   Tremor... medo? De que? De quem? De me mostrar? De me colocar, de me expor? De mostrar o que sinto e depois sofrer? De me envolver? De perder?  Mas já sofro sem isso....por que  então não ousar me envolver? Não sei...dúvidas! Dúvidas?
   Resolvi respirar e aquietar para conseguir continuar. Alívio ao respirar mas ainda não sei como retomar a tarefa de escrever.
   Sinto o chão gelado  e logo vem a vontade de dormir.
   Meu corpo faz isso com galhardia! Desliga fácil dormindo.
   Sai da emoção , dorme, foge!
   Qual o problema em sentir? Qual meu problema em sentir? Por que o medo de sentir?
   Me veio a lembrança do  dia que meu pai faleceu.
   Fui capaz de no mesmo dia  conduzir toda a festa de 15 anos da Anny, sempre apoiada racionalmente nas frases: ele gostaria disso ou: quando Anny nasceu não pude comemorar e não vou deixar de fazê-lo agora.                                                                 
   Mas é sempre assim com a morte: aparentemente não me abala. Pauto-me no meu entendimento da morte: É APENAS UMA PASSAGEM, mas se eu realmente pensasse assim, que motivo teria para me desesperar quando a Anny não está bem de saúde?
     Outra vez vontade de dormir. E por que não dormir? Quando acordar retomo ao tema. Vamos fazer o que o corpo pede! Ou seria o que o inconsciente pede?
     Não consigo dormir. A mente teima em pensar.
     Percebo mãos dormentes, dor de cabeça e dentes serrados. Relaxo! Respiro.    
     Percebo o corpo tenso, enrijecido . Respiro, relaxo, Respiro mais profundamente.
     Me acalmo
  Levantei, olhei-me no espelho. Não gostei! Dobrei os joelhos como em grounding...  Gostei do que vi! Apesar da sensação meio incômoda nas pernas me achei mais bonita! Gostei.
     Pensei: estar em contato  comigo mesma pode parecer incômodo mas me faz melhor aos meus olhos.
    Tornei a olhar.. o que difere? Os culotes ! Por que me incomodam tanto?
     Respiro. Resolvo recomeçar da cabeça.
     Por que olhos tão tristes? Sorriso por fora e tristeza por dentro! E como as pessoas percebem a tristeza apesar do sorrisão!  Sempre me pontuam isso! E eu concordo...
    Agora, já não mais olhando o desenho feito e sim olhando meu corpo. Agora me coloco fora de mim.
    Muito tempo passou para eu conseguir continuar a escrever sobre meu corpo! E como ele está diferente depois de um mês. Retomo a figura para ser mais fiel ao que senti no momento que fiz o desenho...
    Percebo dois órgãos genitais e como o pau ( tronco/tora) foi desenhado pela necessidade que tive ao não me satisfazer com a borboleta saindo do casulo ( forma de vagina)...
    E retorno ao desenho do meu corpo, com abertura no coração e na direção dos órgãos genitais.
   O corpo deseja sair de dentro desta prisão ( a tora) e já tem conseguido muita coisa, embora eu ainda sinta medo de me permitir sentir...
   Outro dia ouvi uma coisa e pensei: é isso! Eu ouvi: você não resolve, você congela! E é isso mesmo!
    Congelo as sensações, congelo os sentimentos ..aliás eu tento congelar ....com medo se sofrer, com medo de me sentir rejeitada mais uma vez....mas na realidade tudo isso está dentro deste corpo, com vontade de sair daqui !! Daqui de dentro de mim!

Nenhum comentário:

Postar um comentário